quarta-feira, 13 de abril de 2011

KARL MARX: «A RELIGIÃO É O ÓPIO DO POVO»



"O fundamento da crítica irreligiosa é: o homem cria a religião; não é a religião que cria o homem. E a religião é, bem entendido, a autoconsciência e o auto-sentimento do homem que ainda não é senhor de si mesmo ou que já voltou a perder-se (. ..) A religião é o soluço (o suspiro) da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de um estado de coisas carente de espírito. A religião é o ópio do povo. A abolição da religião enquanto felicidade ilusória do povo é uma exigência que a felicidade real formula. Exigir que renuncie às ilusões acerca da sua situação é exigir que renuncie a uma situação que precisa de ilusões. A crítica da religião é pois, em germe, a crítica deste vale de lágrimas de que a religião é a auréola
Marx considera que a religião é uma forma de alienação. Nela verifica-se a fractura entre o mundo concreto e um mundo ideal, entre o mundo em que o homem vive e o mundo em que ele desejaria viver. Por que razão surge esse mundo ideal? Marx diz que o mundo celeste é o resultado de um protesto da criatura oprimida contra o mundo em que vive e sofre. Ou seja, procura-se um refúgio no mundo divino porque o mundo em que o homem vive é desumano. Num mundo em que "o homem é o lobo do homem", não há "família humana", o homem não se sente neste mundo como em sua casa.
A procura de uma família celeste deve-se à perda da família terrestre, à separação do
homem do seu semelhante. São essencialmente as degradantes condições materiais de vida, a exploração do homem pelo homem, com o consequente desprezo pela vida humana, que levam o homem a sentir-se órfão na terra e a procurar um pai no céu.
O mundo religioso, o "Reino de Deus", não tem consistência própria, não é verdadeiramente real. É um "reflexo" de degradantes condições materiais de vida, da opressão da grande maioria dos homens por outros. É a "flor imaginária" que decora os grilhões que oprimem os explorados; é o "suspiro" de quem se vê degradado na sua humanidade, transformado em objecto e máquina produtiva que quanto mais enriquece os exploradores mais se empobrece a si mesmo. Segundo Marx, da religião o homem não pode esperar a sua libertação e emancipação. Ela é um "sintoma" da desumanidade do mundo dos homens e não o remédio para esse mal. Mais do que isso, ela é um "ópio", um produto tóxico, que entorpece, aliena e enfraquece  porque a esperança de consolação e de prometida justiça no "outro mundo" transforma o explorado e oprimido num ser resignado, tende a afastá-lo da luta contra as causas reais do seu sofrimento.
Marx sempre considerou a religião como uma super - estrutura, i. e., uma dimensão que reflecte e é condicionada pela infra-estrutura de uma determinada sociedade, ou seja, pelo modo como se verificam as relações entre os homens no processo económico ou produtivo.
Nesse processo produtivo há uma classe dominante: aquela que detém a propriedade privada dos meios de produção (instrumentos, máquinas, fábricas, etc.) e que por isso submete ao seu poder aqueles que não podendo produzir por si mesmos a sua subsistência têm de vender a sua força de trabalho. A exploração do homem pelo homem tem a sua raiz no facto de a propriedade dos meios que permitem produzir e assegurar a subsistência ser privada e não social, i. e., de alguns e não de todos. Ora, segundo Marx, as ideias dominantes (religiosas, filosóficas, morais, etc.) são o reflexo ou, pelo menos, são condicionadas pelos interesses económicos da classe materialmente dominante. Assim, a religião é um instrumento que, apesar de apelar à benevolência dos poderosos, ao apresentar o Céu como lugar da justiça e da compensação, justifica o estado de coisas existentes, o domínio de uma classe sobre outra. A ilusão de um mundo transcendente e justo serve para que as injustiças se perpetuem na sociedade humana. Por isso, segundo Marx, não basta criticar a religião: é preciso não só criticar a raiz material (a alienação do trabalho, a exploração económica) da alienação religiosa, como também eliminar revolucionariamente as condições de miséria terrestre das quais deriva a necessidade do "mundo celeste".
Atacar directamente a miséria terrestre (a alienação económica) é destruir indirectamente a necessidade do mundo celeste.

27 comentários:

  1. Bom dia! Em qual obra de Marx, encontro tais idéias?
    obrigado

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    1. Sensacional.Ótimo texto!!
      Extremamente coerente e bem escrito.
      Parabéns!!

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  3. agradexo bastante a informacao sera util para a realizacao do exame de antropologia

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  4. Bom! Se Deus não existisse, seria de grande valia tal pensamento. Incrivel que muitos cientistas tem descoberto os rastros de Deus, exatamente em seus trabalhos. Por exemplo, como justificar a capacidade de perdão sendo que as especies se aglomeram ou colaboram entre si, somente pelo bem comum? Misteriosos fatores (não provaveis) q aconteceram nas frações de segundos após o big ban, q se caso não tivessem acontecido, não estariamos aqui. Pq só a nossa especie desenvolveu inteligencia e consciencia?
    Agora, dizer que a religião (Deus e toda forma de crença) é alienante pq conforma o homem as diversas expressões de exploração e pedir que se elimine "revolucionariamente" as condições de miséria terrestre, é no minimo, incitação pra que o povo atenda os interesses proprios dos intelectuaisinhos de esquerda. Alias, um sistema que já não deu certo e nunca dará, pq simplesmente nivela o ser humano em nivel inferior. Somos diferentes e vcs querem enterrar a capacidade do ser humano de empreender seus dons, talentos e sua pessoa num projeto, coisa que a religião, que Cristo, sempre motiva nas pessoas.

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    1. Eliminar revolucionariamente a miséria,é sim, o mínimo a se fazer para que a maioria dos seres humanos não continuem num nível inferior.
      E com certeza não se faz isso sem questionar a tudo, a todos e por que não a si mesmo.
      Como descobrir alguma verdade se resignando a dogmas e ensinamentos que não podem ser contestados.

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    2. PRIORIZAR CRISTO NAS NOSSAS VIDAS COMO INSTRUTOR LEAL E CONDUTOR DE UMA VIDA PLENA E REALIZAVEL NA RTERRA EM DIREÇAO AO CÉU, NAO DÁ O DIREITO DE EXPLORAÇAO DO SER HUMANO NO CAPITALISMO QUE POR SUA VEZ FRENTE AO COMUNISMO ESTÁ AÍ NOVAMENTE EM CRISE! DE CERTA FORMA KARL MARX TEVE RAZÃO EM DEFENDER SUAS IDEOLOGIAS NO SOCIALISMO CRIADO POR COMTE

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    3. Só que nada, NADA, dá o direito a uma pessoa ou um sistema de governo de decidir o que a outra pessoa deve crer e de se expressar e expressar sua religião ou convicção política! Parece até nazismo! O comunismo perseguindo aqueles que acreditam ou seguem algo diferente do que eles permitem e o nazismo(atualmente também neonazismo) que persegue judeus, negros, cristãos, qualquer um que não se adeque aos padrões que eles estabelecem! Até mesmo o socialismo utópico é assim, pois estabelece que as pessoas devem ser iguais, portanto não aceitando as diferenças. O socialismo utópico é tão intolerante que prega que a religião é o ópio do povo e que deve ser ABOLIDA. Ou seja, querem forçar as pessoas a abandonarem o que acreditam e isso é ditadura! É um governo opressor que vai de encontro a liberdade das pessoas!

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    4. E perfeitamente compreensível a posição de ambas as partes mas penso que o discurso vai mais além .o que vemos nas religiões e exatamente o que está escrito os líderes religiosos não istimulam bem incentivam as pessoas a saírem de suas cavernas ou de frente de seus espelhos o ensinamento cristão e mais do que se ensinam mais infelizmente o homem necessita a quem seguir só que muitos seguem pessoas errôneas mas se o homem necessita de um guia para se encontrar desculpem sábios de todo mundo o guia já veio mas o homem por ser homem não aceito mas ainda por ser homem ele nos sai vou sem mais de longa casa um trais consigo um fraguimento verdade basta nos despojados de nossas diferenças e nos unir pro que verdadeiramente importa

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  5. Eu não tenho nenhuma dúvida:
    Religião é o “ópio do povo”.

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  6. Hoje para mim é muito claro que a religião é algo milenar, com influencia até astrológica, mas não passa de uma grande viagem do próprio homem. Devaneio.
    Acho que deveríamos concentrar nossas energias para tentar uma sociedade mais justa, aprendermos a fazer as coisas pelos outros, pensar coletivo. Isso gera sentimento de amor, o que tanto buscamos.

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  7. "A religiåo é o ópio do povo" essa frase termina assim mesmo ?! Pq até onde fiquei sabendo era algo mais ou menos assim, a religião é o ópio do povo, mas esquecem que o povo necessita de qq tipo de ópio, muda completamente o sentido da frase, rs, mas n acho nenhuma fonte com a frase completa, se alguém puder ajudar

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.
      Introdução a
      Critica da filosofia do direito de Hegel
      Karl Marx

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  9. Marx tinha, em seu tempo, os oprimidos que eram estimulados à subserviência pelo medo da leis religiosas.

    Hoje, a religião não tem tanto poder, mas descobriram que há outras forma tão poderosas de alienações, verdadeiros ópios: "o entretenimento".

    2 de Fevereiro de 2014 às 04:50

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  10. Excelente texto!!!!!!!!!!!!!!!!!!! É assim que também penso... Mas cada uma com seu cada um e respeito acima de tudo. Só não queiram, os religiosos, transformar a vida social em regras, ditada por dogmas religiosos. A vida é plural e ser diferente, em todos os sentidos, é um direito constituído pelas Leis dos homens...

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  12. De ópio a veneno, várias guerras religiosas ocorrendo, causando mortesce destituição.

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  13. De ópio a veneno, várias guerras religiosas ocorrendo, causando mortesce destituição.

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  14. Porque Marx via a religião como algo negativo?
    Trabalho de escola mim ajuda gnt pfv

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  15. As reflexões deste género, devem ser sempre feitas, pois o que estamos a viver de certa forma reflecte se nisto.... Partilhar o saber deve ser a cultuara do academico

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