terça-feira, 26 de abril de 2011

NIETZSCHE E O CRISTIANISMO (VI) – O NIILISMO E A MORTE DE DEUS


NIETZSCHE E O CRISTIANISMO (VI) – O NIILISMO E A MORTE DE DEUS

"O niilismo aparece agora - quando a crença num Deus e numa ordem essencialmente moral já não é sustentável - não porque o desprazer pela existência seja maior do que anteriormente, mas porque o homem se tornou desconfiado em geral quanto a um sentido no mal, ou mesmo na existência. Uma interpretação foi ao fundo; mas porque ela valia como a interpretação, parece que não há nenhum sentido na existência, como se todas as coisas fossem em vão.»"Que significa o niilismo? Que os valores supremos se desvalorizaram. Falta o fim (a finalidade, o sentido): falta a resposta ao porquê.»

Em Nietzsche, o niilismo define-se em função da vontade de poder. Quando essa vontade - que é a essência da própria vida - diminui ou se esgota, se torna negativa ou rancorosa, dá lugar ao niilismo passivo. O diagnóstico de Nietzsche, mediante a análise genealógica do fundamento dos valores da cultura ocidental, é o de que esse niilismo está prestes a chegar. Com efeito, todos os valores criados pela cultura ocidental são falsos valores, são a negação da própria vida e procedem, no fundo, de uma "vontade de nada": "Niilismo como consequência da interpretação que até agora se fez do valor da existência."
Quando esses valores se afundarem - e para Nietzsche isso já aconteceu com o "acontecimento" da "morte de Deus", fundamento de todos os juízos que se fizeram sobre a vida chegará necessariamente o niilismo. A civilização ocidental ficará sem os valores que possuíra até agora. O bem e o mal claramente definidos pelo Deus - juiz da moral cristã; o "outro mundo" como mundo da felicidade prometida que vale todas as penas deste mundo passageiro; a superioridade do espírito sobre o corpo, todas estas concepções e valores vêem-se derrubados com a extinção do Fundamento, do valor dos valores: Deus. Se Deus era o horizonte luminoso e transcendente que orientava e disciplinava a vida humana, lhe dizia o que devia fazer, e qual a finalidade das acções humanas, a "revelação" de que Deus - como negação da vida - não é digno de crença (é uma ilusão e um ideal prejudicial) o seu desaparecimento, faz com que o homem perca a "Estrela" que orientava o seu caminho.
Tudo fica à deriva, perde-se o que era o sentido da existência, falta uma finalidade, nada parece ter valor. Pode-se ficar a contemplar a ausência do Sentido e não ter grandeza para criar um novo que reafirme aquilo que, em nome de Deus, se caluniou: o mundo sensível, a terra. É isto o niilismo passivo e aqueles que nele se comprazem são designados em Nietzsche por conceitos como "o último homem", "o mais ignóbil dos homens", "o mais feio dos homens". O "último homem" é o homem sem qualquer valor, nos dois sentidos da expressão.
Interpreta a morte de Deus como o desaparecimento de um Ser que exigia de mais do homem, cuja Omnipresença fazia do homem um ser constantemente vigiado. Era um Ideal que transformava a realidade da existência humana num fardo insuportável: a moral que dele emanava era demasiado rigorosa. O seu desaparecimento é interpretado por este desprezível homem como o desaparecimento de todo e qualquer ideal: não vale a pena procurar um novo sentido, basta uma vida sem grandes responsabilidades, confortável, tranquila.

Capitulando, por conveniência mesquinha, perante a ausência de sentido de um mundo que agora anda à deriva, porque sempre se entendeu que não tinha um valor próprio mas sim um valor que estava suspenso da "Realidade Suprema", o "último homem" é o maior risco a que a "morte do Sentido" (de Deus) condena o homem. Ele, no fundo, não se sente responsável pela morte do Ser Supremo, não a assume, recebe essa notícia com um sorriso mesquinho. Não disse "não" a Deus mas diz "sim" à sua ausência como se ela não fosse obra dos humanos.
Contra este niilismo passivo Nietzsche faz a defesa do niilismo activo. Este é a consciência de que os antigos valores fundados em Deus não caíram por si mas por obra de uma vontade de poder que já não podia suportar o desprezo, o ódio e o ressentimento a respeito "desta vida" e "deste mundo". O niilista activo é aquele que diz "não" para se criarem novos valores, uma nova atitude perante a vida. Assume o deicídio e vê nele uma promessa de fidelidade à terra e o advento de um novo tipo de homem e de vitalidade (o super- homem).
Este glorifica a vida como perpétuo crescimento e não como esgotamento em nome de um Ideal transcendente e ilusório que a atrofia. Dar um novo sentido à vida é colocá-la acima de qualquer objecção (como o Pecado original), celebrá-la como o único absoluto, como algo que não pode ser julgado mas amado: não há nenhum valor superior a ela..

1 - "Niilismo provém do termo latino nihil ("nada").
2 - Mais propriamente ao "para q••.

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